13 de novembro de 2008

O certo que foi ridicularizado


Como todo domingo rotineiro, sentada em minha cama e afagando minha gata, resolvi ler o caderno da folha de São Paulo interessada na reportagem da capa: os prédios abandonados em São Paulo.
Uma tristeza só, tantas pessoas precisando de moradias e essas construções vazias, pensei. Muitas pela burocracia brasileira, outras pelo egoísmo de seus proprietários.

Enfim, domingo gostoso, entardecer ensolarado, anunciando a chegada do tão querido verão, continuei folheando a revistinha semanal, pensando já ter lido a parte ruim do nosso cotidiano. Coitados dos meus olhos, do meu cérebro e da nossa querida Língua Portuguesa de outrora, “levaram o Aurélio e as gramáticas pra bem longe do Brasil”, gritei. Não sei se ri ou se chorei, mas foram minutos de indignação misturados com ironias.

A pequena notícia que trazia o título “No vestibular, regras serão facultativas”, informava que em janeiro de 2009 o novo Acordo Ortográfico, sancionado pelo presidente Lula ("sem comentários"). Com intuito de mostrar o antes e depois das palavras e das regras gramaticais a revistinha semanal mostrava a diferença das palavras, que ao longo dos meus 30 anos aprendi a escrever. Voltei a pensar: "lá vou eu me matricular na primeira sério do ensino fundamental para tentar escrever errado."

O sol do domingo acabou, fui dormir, cansada de notícias ruins e com aquela péssima sensação de “lá vem a segunda-feira, o dia chato pra começar a semana”. Eu nem sabia que, de fato, o dia seria monstruoso e que a nova regra gramatical seria tão bem aceita e rápida em sua chegada, não teve tempo nem de aceitar minhas boas-vindas.

Segundona, trânsito, gente estressada (inclusive eu), papéis e mais papéis em cima da minha pequena mesa, telefones tocando desesperadamente, clientes, colegas de trabalho, ufa, olhei o relógio e sorrindo sussurrei: “Uau, está chegando a hora do almoço, lá vou eu me divertir um pouquinho."
E lá fui eu, restaurante cheio, fila, comida estranha, mas até ai tudo bem, isso já é rotina. Pior foi ver o chefe, sentado numa mesa escondidinha, abanando a mão pra chamar a atenção, até parecia um “marronzinho da CET”. Conclui com os meus botões, “já era almoço, sossego e paz de espírito”.

Como era de imaginar nosso assunto principal foi “trabalho”. Comi tão rápido, pensando em sair logo dali, que não sei como não engasguei. De praxe, pedi o gostoso cafézinho pra finalizar o meu fiasco de almoço. O garçom, todo simpático, trouxe a xícara com aquele líquido cheiroso e o açúcar, mas esqueceu a colher. Ah!!! famosa colher.

Pedi ao simpático e humilde garçom: “O senhor pode trazer a colherinha?”. Nesta hora percebi um sorriso tolo no rosto do meu amado e querido chefe, mas não entendi o gesto.

Dois, três ou até quatro minutos passaram-se, nada do pequenino metal chegar para adoçar meu café e me tirar daquela cena entre almoço chato, chefe chato e segunda-feira chata. Foi quando, com uma ironia displicente e desnecessária, meu chefe resolveu abrir a boca dizendo (ou seria latindo):
- Se você tivesse pedido uma colherzzzzzzzzzinha ele já teria trazido, mas você pediu errado e ele esqueceu.

Na hora pensei em fechar a mão e exercitar um pouco de esporte na face daquele sujeito, esse mesmo - o meu querido e amado chefe - mas me contive, apenas fiquei calada e aguardando a colher. Desisti, o coitado do garçom tinha mesmo esquecido o meu pedido e meu café já estava gelado mesmo.

Voltei pra masmorra e trabalhei o resto do dia indignada, não por meu chefe ter falado errado, mas pela grosseria de achar que o errado virou certo.

A noite, novamente na minha cama, com a minha gata que nada fala (assim não erra), pensei sobre o que havia ocorrido desde a notícia do novo Acordo Ortográfico até a indelicadeza daquele que paga o meu salário. Pensei: “Não tem pobrema, agora a gente podemos falar e excrever errado mezmo”, sorri com o meu pensamento e adormeci.

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